O serviço público brasileiro tem problemas? Sim, muitos. Há
servidores que abusam da estabilidade que a maior parte das carreiras no setor
oferece? Sim, também. Mas promover e difundir generalizações do tipo “todo
funcionário público é vagabundo e preguiçoso” é tão sem sentido e irresponsável
quanto dizer que todo empresário é um egoísta explorador e sem escrúpulos.
O Brasil tem uma máquina estatal grande, devido a vários
fatores e escolhas feitas pelos governos que tivemos ao longo de nossa
história, desde a época em que éramos colônia de Portugal. Bem ou mal, hoje,
essa estrutura é fundamental para que o país funcione. Poderia ser diferente?
Pode e acredito que um dia será. Mas, em menor ou maior quantidade, sempre
teremos funcionários públicos, precisaremos deles. O que nos cabe, enquanto
cidadãos, é contribuir para que o serviço prestado por esses trabalhadores seja
cada vez melhor.
O emprego público por aqui sempre foi utilizado como moeda
de troca, instrumento de controle de cidadãos-eleitores, material para manobras
políticas. Durante muito tempo, o acesso a um cargo desses, “estável” e
"vitalício", não foi nada republicano. Era o tipo de “boquinha” que
só se conseguia com uma boa barganha e o intermédio de alguém influente.
Ao passo que fomos amadurecendo enquanto república, esse
processo foi se tornando mais profissional. Os concursos públicos trouxeram
mais isonomia e o velho “quem indica” perdeu força.
Obviamente, ainda temos hoje milhares e milhares de postos
que ainda são preenchidos sem concurso, por mera indicação. São os chamados
“cargos de confiança” ou “cargos comissionados”, preenchidos por servidores de
áreas operacionais que geralmente são substituídos a cada novo governo.
Existem muitas brechas no estado brasileiro que só uma
mudança profunda e sistemática na nossa forma de sermos republicanos vai
promover avanços duradouros e significativos. Mas, enquanto isso não acontece,
tem muita gente - me arrisco a dizer até que é a maioria - que não cede às
"tentações" de sistemas frágeis e mal controlados, que cumpre com
suas obrigações de maneira séria e que não merece ser enterrada na vala comum
reservada na história aos vilões do povo brasileiro.
Não consigo tolerar a demonização da figura dos
trabalhadores públicos, de maneira genérica, etiquetando-os como aproveitadores
que deitam e rolam com o suado dinheiro do contribuinte. Antes de dizer
qualquer coisa sobre um funcionário público, lembre-se de que bem perto de você
devem existir vários, que acordam cedo, fazem seu trabalho com dignidade e
respeito aos cidadãos, nunca aceitaram propina nem deixaram atestado médico
falso no RH.
Já tive más experiências com pessoas que me atenderam em
órgãos públicos. Mas não mais do que tive com empresas privadas. Na verdade, já
fui mais bem atendido por médicos e enfermeiros de hospitais públicos do que
por outros em unidades privadas. Já recebi tratamento melhor de servidores da
Previdência, da Receita, da Caixa Econômica e outras organizações públicas do
que tive por parte de empresas de telefonia, internet, energia ou cartão de
crédito.
Bons funcionários públicos são importantes para o país.
Respeitá-los é tão essencial quanto cobrar que cumpram bem seu trabalho. Faça
sua parte.
A você, bom servidor público, deixo, antes de tudo, meu
agradecimento pelos bons serviços prestados. E meus parabéns pelo seu dia!