terça-feira, 2 de dezembro de 2014

VOCÊ TEM AMIGOS NO TRABALHO?



Vou perguntar mais uma vez: você tem amigos no trabalho? Tem certeza? Pense melhor na resposta. Você seria capaz de colocar a mão no fogo pelo seu amigo? Será que ele ou ela fariam o mesmo por você? Você abriria mão de uma promoção em benefício do seu melhor amigo no trabalho? Duvido muito!

Dia desses, assisti uma reportagem sobre amizades no trabalho e confesso que fiquei chocado com tanta hipocrisia, não que isto seja utopia, mas no mundo competitivo em que vivemos, conseguir bons amigos no trabalho, no sentido literal da palavra, é um verdadeiro desafio.

Imagine que você e um amigo de trabalho tenham iniciado a carreira numa empresa no mesmo dia, no cargo de auxiliar administrativo. Com o tempo, ambos foram promovidos, em datas diferentes, para assistente, analista e coordenador, cada um na sua área, no mesmo departamento.

Nesse ínterim, vocês construíram um bom relacionamento, ele foi seu padrinho de casamento e vice-versa, você e sua esposa foram padrinhos do primeiro filho dele e vice-versa e ambos estiveram juntos na maioria dos eventos marcantes da vida de vocês.

Durante esse mesmo tempo, ambos se prepararam como ninguém para crescer na empresa, fizeram faculdade, curso de inglês, MBA e passaram por uma experiência internacional, sempre de olho numa oportunidade futura de crescimento para o cargo de diretor da área.

Alguns anos se passaram e, quando você menos esperava, a oportunidade chegou e você vinha contando com isso, mas quem levou a melhor foi o seu amigo, o seu padrinho de casamento, padrinho do seu filho, aquele mesmo que não saía da sua casa.

Você sorri aquele sorriso magro, cumprimenta o amigo, deseja a ele toda sorte do mundo, mas a verdade nua e crua é que ele vai ser seu chefe a partir de agora, naquele cargo que você tanto almejava e, além de tudo, a empresa não está nada bem.

Para ficar ainda mais emocionante, seu amigo foi elevado ao cargo de diretor com a missão de promover uma verdadeira revolução no departamento onde vocês trabalham a fim de recuperar os resultados que a empresa precisa, doa a quem doer, segundo o presidente.

Decorridos trinta dias desde que o seu amigo foi promovido, você é chamado por ele na sala para uma conversa ao pé-de-orelha e a mensagem direta: - é o seguinte, meu amigo, os números da sua área foram sofríveis nos últimos tempos, portanto, apesar de morar dentro do meu coração, ou você muda isso ou não tenho como segurá-lo no emprego.

Você argumenta, contra-argumenta, lembra a ele, sutilmente, sobre o vínculo que ambos criaram ao longo dos últimos anos, mas nada parece sensibilizá-lo, afinal, agora ele é o diretor, tem um nome e um cargo a zelar, portanto, se tiver que chorar, que chore a sua mãe e não a dele.

Parece duro, mas não é. Aconteceu exatamente como foi dito aqui, com um cliente meu que agora está em processo de coaching. Depois de um tempo, pressionado pelo “amigo”, ambos já não se cumprimentam tanto, as famílias se afastaram e o relacionamento foi se deteriorando a cada dia, motivo pelo qual ele veio procurar ajuda.
Onde foi parar aquela amizade de tantos anos? O que leva uma pessoa a mudar assim tão rápido? Amigos não deveriam proteger e beneficiar os amigos? Mas a realidade é o que ela é e não o que você gostaria que fosse.

Com base no exemplo mencionado e em outros da minha experiência profissional, quero compartilhar algumas lições que considero essenciais para reduzir a sua expectativa em relação às amizades no mundo corporativo.

Isso vale para chefes e subordinados, patrões e empregados e todos aqueles que ainda não foram decepcionados por um vínculo equivocado de amizade no ambiente de trabalho. Talvez isso nunca lhe aconteça, mas vale a reflexão.

1. Não existe esse negócio de amizade no trabalho. Você demitiria um amigo? Abriria mão de uma promoção para ajudar um amigo? Seria capaz de se oferecer no lugar dele para ser demitido? Será capaz de intervir na demissão dele sob risco de perder o emprego?

2. O principal interesse das pessoas é por elas próprias, ou seja, elas estão muito mais interessadas nelas mesmas do que em você, o que faz do ambiente de corporativo um campo fértil para a dissimulação e a hipocrisia.

3. “O homem só é sincero sozinho, dizia Emerson, o grande pensador norte-americano, na presença de uma segunda pessoa começa a hipocrisia; embora tenhamos dominado a tecnologia, não somos capazes de dominar os nossos instintos mais primitivos, é uma questão de sobrevivência.

4. Em relação ao ambiente corporativo, pare de alimentar expectativas irreais; as pessoas são o que são e, além do mais, a natureza humana não pode ser compreendida, então, faça o melhor que puder sem depender de ninguém.

5. É bem mais fácil manter o coleguismo do que a amizade no trabalho. A amizade vai exigir sacrifícios para os quais você não está preparado e sempre chegará o dia em que ela será colocada à prova.

6. Existe sempre alguém disposto a fazer o dobro do que você faz pela metade do que você ganha, portanto, não alimente a ilusão de que um amigo vai abrir mão do cargo que você perdeu apenas para ser solidário contigo. A fila anda, meu amigo.

7. Por experiência própria, posso dizer que você conta nos dedos aqueles a quem pode realmente chamar de amigos. Menos de 5% dos que se dizem amigos serão capazes de ligar para você no dia seguinte à sua demissão.

Por fim, o melhor que você pode fazer é ser você mesmo, continuar estudando, cultivar o dom do relacionamento saudável e fazer o máximo que puder a fim de não depender de ninguém mesmo sabendo que algumas pessoas se aproximam do chefe por puro interesse e que talvez ele goste disso.

Você pode perder o emprego, o crachá, o vale-refeição e o plano de saúde, só não pode perder a sua dignidade. Amigos de verdade, haja o que houver, estarão contigo no dia seguinte.
Pense nisso e seja bem mais feliz!