domingo, 6 de julho de 2014

BATENDO NO NEYMAR




Não que eu seja especialista em futebol, mas ver um adversário entrando com o joelho nas costas do melhor jogador de um time nos momentos finais de uma partida me fez pensar em um comportamento triste, mas comum, no mundo corporativo.

Sempre achei que o perigo do mundo está nas pequenas corrupções. O sujeito que vai embora mais cedo quando o chefe não está no escritório, a profissional que finge que não viu um e-mail para enrolar em uma tarefa, o chefe que dá uma cacetada em um funcionário que não pode se defender. O jogador que nos momentos finais de uma partida resolve tirar da jogada o craque do time adversário.

Os grandes delitos, aqueles que aparecem nas manchetes do jornal, costumam atrair bastante atenção: Ouvimos sobre roubos a bancos, ou assaltos a mão armada em nossa vizinhança. Esses são o lado realmente negro, aqueles que estão na linha que divide o “bem” e o “mal" de forma bastante clara. A maioria das pessoas felizmente não pegaria em uma arma com o objetivo de separar pessoas honestas de suas carteiras. Ainda assim, há um espaço cinzento entre o certo e errado, e é esse que me preocupa.

Afinal, quando tudo está bem e todos estão olhando, é fácil ser campeão das virtudes e bons costumes. As pessoas realmente mostram suas caras quando tem a chance de fazer algo errado, ou “levemente errado”, sabendo que as chances de serem pegas ou punidas é relativamente baixa.

O que dizer, por exemplo, de alguém que está desempregado a alguns meses, e resolve entrar com um processo trabalhista contra o ex-empregador, mesmo sabendo que está distorcendo sua história em busca de um ganho financeiro? Alguém que volta atrás em um acerto verbal, que troca a sua palavra por um ganho rápido nem que isso custe a outra pessoa? Alguém que vende um serviço técnico que o cliente não precisa, mas dificilmente saberá avaliar a diferença de algo mais caro e outra opção mais barata?

Na minha experiência, essas pequenas corrupções aparecem nos mais diversos níveis. Pode-se reclamar do ambiente, da cultura ou do que quer que seja, mas a verdade é que algumas pessoas, dada a oportunidade, tiram vantagem ou prejudicam um concorrente sem se importar se estão cruzando uma ou outra linha.
Tais pessoas agem como se passar um pouco, atravessar um pouco os limites da ética, colocar o pé na linha que divide o certo do errado fosse menos pior do que atravessar de vez.

Quem aprende a pisar na linha, provavelmente fará isso de novo. É a velha história de observar uma pessoa na hora que ela sabe que não será punida por isso. Sabe aquele seu amigo que não avisa o garçom se a conta veio abaixo do que foi consumido? Esse sujeito é um corrupto. Se ele não vê nada de errado em um pequeno delito como esse, no futuro pode não ver nada de errado em tirar vantagem de outra pessoa, ou mesmo de você.

Até acho admirável alguém que bate na cara. Claro que o melhor é não bater, mas se for para fazer isso, nada mais justo que fazer isso quando o outro lado possa se defender. Bater quando alguém está de costas, como qualquer outra pequena corrupção, é uma atitude covarde. Pode até trazer ganhos, mas não deixa de ser errada. Nem todos os pequenos delitos são pegos, e a verdade é que muitos habitantes do mundo empresarial passam suas carreiras se aproveitando de oportunidade de tirar vantagem quando sabem que tem poucas chances de ser punidas por seus desvios.

Então, caro leitor, sem me alongar muito em um tema tão negativo. Fica aqui a pergunta: Quando o outro lado vira as costas, você bate no Neymar?



http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/batendo-no-neymar/78586/