sexta-feira, 30 de setembro de 2016

VIVÊNCIAS E CONVIVÊNCIAS: O REGISTRO DE UMA REALIDADE




O que o futuro reserva para os profissionais do secretariado que sempre foram alvo de centenas de apelidos estereotipados, maliciosos e pejorativos?

Ultimamente, tem-se intensificado o número de artigos escritos sobre a profissão. Porém, ainda são inúmeras as dúvidas que persistem tanto na esfera das chefias como junto aos próprios profissionais e alunos de secretariado executivo. É uma profissão em extinção? Em transformação? Em transição? Em evolução? Será que as mudanças organizacionais, administrativas e tecnológicas conseguirão obscurecer os estereótipos e apelidos herdados desde o início da função? A denominação de “secretário executivo” está acompanhando toda a evolução do seu perfil e papel nas organizações de hoje? Será que está possibilitando o retrato claro e exato de suas funções e atribuições nas organizações?

Muitos são os questionamentos feitos no dia-a-dia e que poderão ser respondidos com base nas experiências vivenciadas por profissionais que atuam no mercado. Outros merecem uma análise mais profunda face às constantes mudanças no mundo dos negócios. A partir de dados e informações obtidas nos depoimentos de três secretárias executivas, no Seminário de Estágio Supervisionado, do 8o semestre, do curso de Secretariado Executivo Bilíngue (SEB) da Universidade Regional de Blumenau, procuramos historiar alguns dos caminhos percorridos pela função de secretário até ser profissão em 1985, e como profissão, até seu momento de transição atual, na região de Blumenau.

Ser secretária: opção ou acaso?

A SECRETÁRIA A, que iniciou suas atividades profissionais em 1955, em uma instituição bancária, após concluir os “quatro anos do ginásio”, disse que realmente foi uma escolha ser secretária, pois desde muito pequena imaginava que deveria existir uma profissão para quem, como ela, tinha facilidade para escrever, ler, que falava alemão e gostava de acompanhar pessoas. “Quando fiquei um pouco mais velha, eu vi que essa profissão, embora eu não soubesse na época, se chamava secretária. Vi que este tipo de profissão existia.” (SECRETÁRIA A).

Como queria trabalhar, comunicou aos pais esse desejo, só que eles não se manifestaram muito favoráveis. Mas, como sabia que seu pai tinha alguns amigos no Banco, foi até lá e se ofereceu para trabalhar.  O gerente confirmou que sua secretária precisava de uma auxiliar. Solicitou que fizesse um teste e, se aprovada, seria contratada. “[...] fui contratada e comecei a trabalhar, então, no Banco, onde fiquei de 1955 até 1969. Primeiro, como datilógrafa, depois como auxiliar [...]”. (SECRETÁRIA A).

Referiu-se à secretária do Banco com muito carinho e respeito. São suas estas palavras:

        [...] ela foi a minha mestra, a primeira pessoa que me ensinou alguma coisa, porque eu não tinha experiência. [...] sempre dependemos de outros. Pelo menos depois, quando aquela outra pessoa nos deu a primeira chance, a oportunidade, claro que depois depende de nós. Mas sempre tem aquele primeiro passo. Então, tenho muito carinho por ela, porque ela me abriu as portas; ela me deu aquela primeira oportunidade. E aí trabalhamos juntas. À medida que ela saía de férias, eu ficava como secretária [...] e depois quando se aposentou, fiquei como secretária de gerência, no Banco.

 Assim ela, como tantas outras, começou a carreira como datilógrafa, pois ainda nos anos 60, a secretária era vista como uma combinação de recepcionista-telefonista-estenógrafa-datilógrafa.  E como na época, muito tempo era utilizado na datilografia de documentos, o seu sucesso profissional era medido pela sua eficiência e agilidade com a máquina de escrever. Um dos poucos cursos de formação profissional para secretários que existia era o de datilografia. Era preciso “aprender fazendo” no cotidiano do escritório.

O início da carreira, para a SECRETÁRIA B, também foi por acaso. Após sua graduação em Estudos Sociais, foi convidada a substituir a professora de Técnicas de Secretariado de um colégio de Brusque. “Comecei a estudar, a me preparar e me envolver com a disciplina [...] e comecei a me apaixonar pela profissão.” Deixou seu currículo numa empresa têxtil e foi chamada pelo diretor para secretariá-lo. Isso em 1978. “E daí em diante, o amor pela profissão, o carinho por aquilo que a gente faz, as lutas, as conquistas, [...] aquelas piadinhas, tudo aquilo fez parte do meu dia a dia.”  Depois, foi trabalhar como secretária de diretoria numa indústria metalúrgica localizada em Blumenau, onde se aposentou em 1998.

Muitos profissionais começaram na função de secretário por mero acaso, apenas com o intuito de usá-la como um caminho para outras áreas, visto que o acesso direto aos dirigentes favorecia o contato com quem detinha o poder de decisão. Isso prejudicou consideravelmente a imagem da categoria, em torno da qual nasceram os inúmeros estereótipos.


Texto extraído de:

WAMSER, Eliane. O impacto das mudanças organizacionais na profissão de secretário e a contribuição do estágio supervisionado em sua formação. 208f. 2000. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Regional de Blumenau, Santa Catarina, 2000.