segunda-feira, 8 de setembro de 2025

O Diabo Veste Prada e a metáfora do trabalho tóxico

 


Por ACIMARLEIA FREITAS

Há alguns dias eu postei: O Diabo Veste Prada e a Perspectiva do Secretariado Executivo. Hoje volto a falar novamente sobre esse filme, que considero um ótimo filme. No outro poste, eu enfatizava a questão como uma metáfora do cotidiano do profissional de Assistente e Secretariado Executivo que exige organização, discrição, adaptabilidade e capacidade de gerir múltiplas tarefas sob pressão. Mais do que uma história sobre moda, o filme revela que o sucesso de um gestor depende fortemente da competência e da inteligência emocional de quem está nos bastidores — exatamente o papel estratégico do Secretário Executivo. Hoje apresento:

 O Diabo Veste Prada e a metáfora do trabalho tóxico

 

O Diabo é… tóxico?

 

Em O Diabo Veste Prada, a figura de Miranda Priestly extrapola a ideia de uma chefe exigente. O “diabo” não é a moda, nem apenas Miranda, mas sim um sistema de trabalho que normaliza jornadas desumanas, pressões constantes e a ausência de limites entre vida pessoal e profissional. O ambiente retratado na revista Runway é competitivo, individualista e alimenta o medo como ferramenta de gestão — elementos típicos de uma cultura organizacional tóxica.

 

Miranda é uma boa chefe?

 

Essa é a questão central. Miranda é competente, visionária e reconhecida no mercado — qualidades de uma liderança forte. Porém, sua forma de comandar é baseada em autoritarismo e no silêncio imposto: ninguém questiona, todos obedecem. Ela entrega resultados, mas ao custo da saúde emocional da equipe. Assim, podemos dizer que Miranda é uma excelente profissional, mas uma chefe que falha no aspecto humano da liderança. O preço do sucesso, nesse modelo, é o esgotamento de quem a cerca.

 

Favoritismo no trabalho

 

O favoritismo também aparece como mecanismo de controle. Miranda alimenta disputas internas, fazendo com que os assistentes se sintam constantemente substituíveis. Essa estratégia reforça a hierarquia, mas mina a cooperação. Em ambientes tóxicos, o favoritismo não é sinal de reconhecimento, mas sim de manipulação para manter todos em alerta.

 

Machismo?

 

Embora o filme tenha como protagonistas mulheres poderosas, ele não escapa da crítica ao machismo estrutural. Miranda, para se manter no topo, adota posturas duras e impiedosas, muitas vezes reproduzindo comportamentos historicamente associados à liderança masculina. Além disso, a narrativa sugere que uma mulher bem-sucedida precisa sacrificar vida pessoal e afetos — um dilema raramente colocado com a mesma intensidade para personagens masculinos. Nesse sentido, O Diabo Veste Prada escancara como o mercado cobra das mulheres um padrão quase impossível: serem impecáveis, incansáveis e, ainda assim, criticadas por isso.

 

Conclusão:

O Diabo Veste Prada é mais do que uma história sobre moda. É uma metáfora poderosa sobre ambientes de trabalho tóxicos, liderança autoritária, favoritismo como mecanismo de opressão e a pressão extra que o machismo impõe às mulheres. O filme nos convida a refletir: resultados a qualquer custo realmente valem a perda de saúde, de identidade e de relações?