Recentemente,
terminei a primeira versão do que, com alguma sorte, será meu próximo livro.
Confesso que nessa ressaca de escriba, passei um tempo nas redes sociais, onde
normalmente passo fazendo coisas mais úteis.
O que eu vi
nesse período? Após a revolta nacional com o técnico da Seleção Brasileira,
tivemos teorias da conspiração sobre quedas de avião, revolta nacional por um
chef estrangeiro achar que brigadeiro não faz bem à saúde, notícias falsas
sobre um empreendimento imobiliário inteiro doado pela Seleção Alemã,
manifestações sobre uma foto do cineasta Steven Spielberg “assassinando"
um dinossauro (para quem viu o post original, rapidamente, a coisa virou uma
bagunça entre quem caiu, quem entendeu a piada e tirou sarro e quem tirou sarro
de quem acreditou na história), fotos de desastres naturais se passando por
conflitos armados, uma completa confusão sobre mais conflitos armados, mais
teorias da conspiração sobre quedas de avião e, finalmente, notícias
antecipadas sobre a morte de Ariano Suassuna.
Ufa. E isso
foram só alguns dias em que resolvi prestar atenção no que meus amigos virtuais
colocavam em suas páginas.
Pensei em tudo
que já li e vi sobre a tal da "sociedade da informação”. Teoricamente,
todos vivemos no momento mais bem informado da história. Temos, ao alcance de
nossas mãos, acesso a todo o conteúdo do mundo, conseguimos falar com gente em
todos os cantos, falamos e somos ouvidos por uma multidão que antes era
impossível de ser alcançada sem um megafone e um palanque no meio da praça.
Me pergunto até
que ponto isso é informação e até que ponto é apenas impressão de informação.
No último
primeiro de abril, a rede americana NPR resolveu fazer uma pegadinha, postando
em seu site o título “porque os americanos não leem”. Quem clicava na notícia
abria uma página recebendo os parabéns por ser alguém que lê as notícias. Como
você deve imaginar, uma quantidade enorme de internautas incautos compartilhou
a notícia, muitos se indignando e se manifestando de que, sim, liam um monte, e
a notícia estava completamente errada (claro que se ao menos tivessem clicado
no link não passariam essa vergonha)!
Hoje, discutimos
o que se passa na cabeça do técnico da Seleção antes de ouvirmos uma entrevista
dele, criamos teorias sobre o que derrubou um avião antes de saber a opinião
dos técnicos sobre a caixa preta, compartilhamos escândalos políticos antes de
sabermos a veracidade daquilo tudo. Estamos tão acostumados a nos indignar e
sair compartilhando coisas, que a maioria de nós mal se dá ao trabalho de
descobrir o que há por trás das fotos e notícias.
Preciso dar uma
de chato e levantar um sinal amarelo: é tanta informação, mastigada,
amplificada e triturada nas redes sociais, que acabamos com a impressão de que
estamos muito bem informados, quando, na verdade, temos uma visão extremamente
superficial e, em boa parte das vezes, bastante errada, do nosso conhecimento
sobre o mundo à nossa volta. Tudo devidamente amplificado na histeria dos
comentários entre completos desconhecidos.
Antes da
explosão de conhecimento, sabíamos que não sabíamos das coisas. O conhecimento
era mais difícil, precisava ser pesquisado, aprendido e estudado lentamente.
Não ache que estou falando da época dos meus avós. Lembro-me da alegria que eu
sentia quando comecei a encomendar livros do exterior, depois da longa espera
para o conhecimento chegar às minhas mãos.
Hoje é tudo muito
mais imediato e acessível. Ligue o computador, o telefone e comece a consumir
conteúdo. Como resultado, achamos que sabemos muito. No entanto, se começarmos
a cavar esse pretenso conhecimento, ver até que ponto realmente entendemos o
que achamos que sabemos, se tivermos coragem de realmente nos questionar, vamos
descobrir que em boa parte dos casos a conclusão é só uma: sabemos de nada,
inocentes.
http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/um-texto-para-voce-que-acha-que-sabe-tudo/79238/