A máxima “quando um não quer, dois não brigam” nem sempre é
válida, mesmo no trabalho: basta uma brecha e surgem os desafetos. O
relacionamento no ambiente corporativo é um dos pontos mais críticos para
profissionais de todas as áreas. Apesar de desavenças serem contra produtivas,
não faltam histórias de chefes ou colegas que tentaram prejudicar ou
influenciar negativamente a imagem de outras pessoas. Segundo especialistas, a
forma com a qual os envolvidos lidam com o período após a briga pode ser
determinante para a posição na empresa.
Para driblar o clima ruim, a atendente da loja de conveniências BR Mania
Regiane Neves, 28 anos, prefere levar na esportiva. Ela admite que já sofreu
com intrigas por parte de colegas. “O melhor é evitar atritos e tentar manter o
cooperativismo com os colegas. Uma mão sempre lava a outra. Outras funcionárias
já tentaram me prejudicar, mas, após uma confraternização interna, nos tornamos
mais próximas e hoje somos amigas”, relata. Colega de Regiane, Luciléia
Marques, 32, acredita que discussões podem ser benéficas, desde que não sejam
acaloradas: é uma oportunidade para que os envolvidos exponham pontos de vista
e conheçam a opinião dos colegas. “Certo grau de conflito no trabalho é
saudável e acaba agilizando a resolução de problemas. Eu nunca entro em um
emprego com a ideia de fazer amigos. Naturalmente, fazer inimigos também não é
o ideal. Para mim, a melhor saída está no respeito e na reciprocidade. Reclamar
para um superior, só em último caso; muitas vezes não vale a pena”, reconhece.
Vou contar para o chefe
Será que recorrer ao gestor é uma boa ideia? Segundo Lúcia Helena Moura,
analista de recursos humanos, a resposta é não. Casos de rivalidades só devem
ser levados a superiores em situações extremas, onde há assédio moral, por
exemplo. “Por incrível que possa parecer, casos de desavenças no trabalho por
picuinha são os mais fáceis de serem superados, já que, às vezes, o que falta é
uma oportunidade de um colaborador conhecer o outro de forma mais próxima.
Eventos promovidos pelas companhias costumam ser ideais para isso. Levar
assuntos menores ao conhecimento da chefia é extremamente negativo para ambas
as partes: acaba sendo um atestado de que, em vez de trabalharem, ambos estão
perdendo tempo com fofoca e intriga”, diz.
A especialista ressalta que o profissionalismo deve ser mantido. “Assim, pode
haver um clima de segurança entre os colaboradores. Existem casos de
funcionários que tomam atitudes que não seriam bem-vistas pela organização onde
trabalham e, por ingenuidade,
acabam desabafando com um colega que pode vir a usar essa informação contra ele
por vingança em algum momento. Nesse sentido, melhor do que ficar com o pé
atrás é prezar pela reputação”, alerta.
Para o coach e autor do livro A reinvenção do profissional: tendências
comportamentais do profissional do futuro (Editora Novo Século, 160 páginas, R$
29,90), Alexandre Prates, a melhor saída para ocasiões conflituosas é demonstrar
maturidade e inteligência emocional, já que mais grave que o atrito são as
consequências geradas por ele. “O erro ocorre no momento em que uma situação
profissional é levada para o âmbito pessoal. Com ânimos exaltados, um problema
de pouca importância pode se tornar muito mais difícil de ser contornado, já
que pessoas alheias à discussão acabam tomando partido, complicando a
situação”, diz
Dona encrenca
Segundo pesquisa de 2009 realizada pelo grupo Workplace Bullying Institute, as
mulheres são mais propensas a criarem intrigas no ambiente de trabalho. O
estudo realizado pelo grupo norte-americano pesquisou sinais de bullying em
ambientes corporativos e concluiu que o sexo feminino está mais agressivo e
competitivo que o masculino. Para Carolina Rezende, fundadora da escola de
empreendedorismo feminino Mulher de Negócio, o sexo feminino é, de fato,
competitivo. Porém, segundo a especialista, devido à empatia, mulheres tendem a
manter postura colaborativa. “Estamos todas no mesmo barco, não faria sentido
simplesmente tentar puxar o tapete uma da outra. Tentar reconhecer os próprios
erros, pedir desculpas e chegar a um acordo é a atitude esperada para sanar
qualquer conflito”, diz.
O lado da empresa
Para o psicólogo Romiro Alves, criar um ambiente harmonioso também é
responsabilidade da companhia. “Quando a empresa toma conhecimento da má
conduta profissional de alguns funcionários, mas não adota soluções para o
problema, mesmo sabendo que isso pode prejudicar os bons resultados da equipe,
isso demonstra falha de gestão”, diz. “A empresa precisa criar um ambiente
adequado para os colaboradores, eliminando — em último caso — pessoas com
perfis contraprodutivos do quadro de funcionários, mas, antes, priorizando a
reconciliação e o fator humano de cada colaborador.”
Escritório não é campo de batalha
Cinco passos para lidar com inimigos no trabalho:
1. Saiba que ter adversários é normal
2. Fortaleça a sua reputação
3. Entregue resultados
4. Seja firme e verdadeiro
5. Não se desespereFonte: Alexandre Prates