Você já parou para pensar na forma como lida com sua raiva?
Você reage? Fica paralisado? Guarda para si? Ou sequer reconhece seus momentos
de raiva? Pode acreditar: mesmo sem perceber, todos nós experimentamos essa
emoção. E lidar com ela pode ser um desafio, principalmente se a motivação ou
razão que a dispara acontece no ambiente profissional. Afinal, com amigos e
familiares, você pode até se permitir aos comportamentos que lhe são
espontâneos e naturais, mas, com chefes e colegas de trabalho, via de regra,
não funciona assim. Então, que tal refletirmos juntos sobre essa emoção?
Antes de mais nada, quero lhe dizer que a raiva pode e vai
aflorar em diversas situações da sua vida. Em outras palavras, é impossível
evitá-la. Mais que isso, quero lembrar que todos nós temos, em comum, o fato de
que experimentamos essa sensação pela primeira vez ainda na infância. O que
muda é que, também nessa fase, aprendemos com nossos pais e cuidadores como
lidar com essa emoção.
Proponho uma pequena investigação particular: pare por um
segundo e busque na sua infância alguma recordação de seu pai, mãe ou qualquer
outro familiar em um momento de raiva. Qual foi a razão que causou essa emoção?
Como essa pessoa reagiu? O que ela disse, pensou, fez sobre isso? Pergunte-se:
o seu comportamento de hoje é parecido com essa lembrança que acabou de
resgatar? Você imita essa reação? Ou faz exatamente o contrário? Ou, ainda,
alterna ambos os comportamentos – o idêntico e o inverso?
Vejamos o exemplo de Carlos, um de meus ex-alunos (o nome é
fictício). Sempre que sentia raiva, seu pai ficava calado, sem pronunciar uma
única palavra. Em contrapartida, batia portas, esmurrava paredes,
demonstrava-se agressivo. Carlos, ainda pequeno, acompanhou tudo isso de perto.
Hoje adulto, ele é chefe de seu setor e muito bem-sucedido. Mas, sempre que
contrariado, grita com quem quer que esteja por perto. A reação, conta ele,
parece inevitável. Carlos dizia: “se eu não gritar, vou acabar destruindo tudo
o que estiver ao meu redor”.
Diante da raiva, ao mesmo tempo em que repete seu pai,
Carlos se esquiva do exemplo aprendido na infância. Esse conflito interno lhe
causa grande agonia, além de sérios problemas em seus relacionamentos. Ao
ganhar consciência disso, Carlos percebeu, então, que tinha outras escolhas.
Mais que reproduzir aquilo que aprendeu com seu pai quando pequeno, ele poderia
encontrar maneiras mais positivas de lidar com a raiva.
Como você chegou aqui?
Tão importante quanto descobrir como você se comporta diante
da raiva é saber o que dispara essa emoção em você. E ambas as perguntas serão
respondidas com base naquilo que aprendeu na infância. Assim como Carlos, se
você souber como, por que, quando e com quem aprendeu a ter raiva em
determinadas situações, terá consciência de que pode agir de forma diferente
sempre que essas exatas situações acontecerem.
Um passo importantíssimo nessa trajetória é assumir a
responsabilidade por si mesmo. Ou seja: em vez de apontar nos outros o que
desencadeou sua raiva, em vez de devolver na mesma moeda, e em vez de descontar
ou se anular, você deve ter em mente que é o único responsável por essa emoção
negativa. É impossível controlar o que vão lhe fazer ou dizer, mas é totalmente
e completamente possível assumir as rédeas de como você vai lidar com o que
fizeram ou disseram.
Isso é o que chamo de Autoliderança. Ser líder de si mesmo
trará a você uma série de benefícios, inclusive a capacidade de administrar a
sua raiva. Se compreender, profundamente, que seus padrões de comportamento são
seus e podem ser modificados da maneira como lhe parecer mais apropriado, você,
enfim, estará livre dos aprendizados da infância.
É claro que essa transformação não acontece do dia para
noite; ela exige paciência e dedicação. Mas, claro, se for de sua vontade, você
encontrará formas de lidar com sua raiva sem culpa ou consequências desastrosas
para sua vida pessoal e profissional.