Antes de ser o pintor de algumas
das obras mais famosas do mundo, como a “Mona Lisa” e “A Última Ceia”, Leonardo
da Vinci também era engenheiro, arquiteto e inventor; e, em 1482, o gênio
renascentista estava em busca de um emprego.
Então, ele precisou escrever
seu currículo. A carta de Da Vinci enviada ao Duque de Milão,
Ludovico Sforza, é considerada o primeiro registro de um currículo da história.
Na carta, o inventor não conta
sobre sua proficiência em línguas estrangeiras ou qual foi a universidade em
que se formou. No lugar de uma narrativa cronológica de suas conquistas, Da
Vinci faz uma lista dos serviços que podia oferecer ao duque.
Da Vinci fez o que muitos
profissionais hoje têm vergonha de fazer: vender seu produto. Segundo José
Augusto Minarelli, CEO da Lens & Minarelli e autor do livro “Venda seu
peixe!”, a carta do renascentista mostra a lógica de mercado que todos que
procuram emprego deveriam entender.
“É o princípio da oferta e
procura”, diz ele. Quem procura um emprego oferece sua capacidade de resolver
um problema e quem contrata está atrás dessa solução.
Se a procura é por soluções,
Leonardo da Vinci oferecia todas para o duque. Minarelli destaca que ele se
comunica diretamente com quem tem o poder de contratá-lo e apela para suas
necessidades.
Sabendo que o aristocrata
precisava defender seu território e posses, o artista lista suas invenções,
armas, carruagens e outras estruturas que poderiam auxiliar seu possível
patrono. Em caso de uma batalha no mar, ele poderia construir embarcações. Em
tempos de paz, ele oferece pinturas, estátuas, prédio e dutos de água.
Minarelli elogia o discurso
intuitivo que mostra o profissional versátil que era Da Vinci e a necessidade
de seus serviços no presente e no futuro.
“Ele mostra ao duque o benefício
proporcionado pelos seus conhecimentos, ele fala em pontes, barcos, catapultas.
Quando a pessoa oferece algo que corresponde com a necessidade do outro, gera
interesse e curiosidade”, explica ele.
Seguir o modelo do currículo de
Da Vinci pode ser uma maneira de se diferenciar. No entanto, para ser bem
sucedido, o especialista alerta que é preciso que o candidato seja consistente
no conteúdo.
Segundo ele, existem dois modelos
de currículo. O mais tradicional é no estilo biográfico, que mostra na ordem
cronológica as experiências do profissional. O outro, no estilo da carta de
1482, é redigido visando um objetivo do profissional, como uma área ou cargo
específico de seu desejo.
O primeiro é mais esperado pelos
recrutadores, pois permite encontrar as informações com mais eficiência. Para
Minarelli, o profissional com uma boa trajetória e bagagem suficiente pode
organizar as informações para melhor comunicar os serviços que pode oferecer.
Ele estimula seus clientes a
fazer um inventário de suas carreiras, pensando em realizações significativas,
não apenas nos lugares onde trabalhou. Assim, eles sabem suas habilidades e
podem escolher o que define seu perfil profissional.
“Acredito que todo profissional
produz algo que é útil e que pode ajudar alguém”, fala Minarelli. Parte de
valorizar e aprender a vender seu trabalho, para ele, é ter um interesse
genuíno em ajudar a outra pessoa a solucionar seus problemas.
Com essa motivação, o
profissional fica na memória de forma positiva e vira uma referência por suas
habilidades.
Após sua carta, Leonardo da Vinci
se mudou de Florença para Milão à serviço do duque como engenheiro, arquiteto,
escultor e pintor. Sob sua patronagem, o artista criou a famosa obra “A
Última Ceia”, em 1495.
Leia aqui
a transcrição da carta (em inglês).
Por Luísa Granato