Um dos grandes desafios enfrentados pelos executivos é a
transição para um cargo maior de Chefia, onde os pares (colegas de trabalho de
mesma função) passam a ser seus subordinados. As relações interpessoais, se não
forem bem estruturadas, acabam tornando-se empecilho ao bom desempenho
corporativo.
Para entender melhor como desenvolver uma boa transição e minimizar os atritos
oriundos dessa nova fase profissional, trazemos um artigo publicado na Revista
Você S/A, Ed. Abril/2015:
“Em janeiro de 2015, quando recebeu a notícia de que seria
promovido ao cargo de gerente comercial da empresa de auditoria Crowe Horwath,
de São Paulo, o publicitário Juliano Exposto, de 30 anos, sabia que teria um
grande desafio pela frente”.
Além das novas responsabilidades que o cargo trazia, ele passaria a comandar
uma equipe formada por pessoas que, até então, eram seus pares e, em muitos
casos, amigos. 'A relação com meus colegas era muito próxima, a ponto de eu
frequentar as festas de família de muitos deles', afirma Juliano.
Ao mudar de função, Juliano temia que a relação com seus amigos — e agora
subordinados — ficasse prejudicada. 'Sabia que seria inevitável comparar minha
postura antes e depois de me tornar chefe. ' Assumir a chefia de uma equipe
formada por amigos é um grande desafio, pois exige algumas mudanças
significativas no relacionamento com os antigos colegas e agora subordinados.
Problemas ao longo dessa transição são naturais — medo de desagradar, uso
inadequado de relações pessoais e favorecimentos são algumas das situações. Mas
é possível contornar os obstáculos. No caso de Juliano, o caminho encontrado
foi manter o diálogo aberto com a equipe. 'Quero que eles me falem se eu
estiver errando a mão', diz. A seguir, algumas ações para lidar com seus amigos
subordinados.
Comunicação
Manter um diálogo aberto a críticas e sugestões da equipe é uma das principais
orientações dos especialistas. 'A pessoa tem de mostrar que está mudando de
cargo, e não de lado', afirma o consultor de gestão Ênio Klein, de São Paulo.
Uma comunicação eficiente ajuda o time a conhecer as regras e diminui os
melindres na hora das cobranças. O ideal é que haja uma conversa logo de cara,
em que fique decidido como as coisas vão funcionar. 'Sem critérios claros, ou a
pessoa se torna muito frouxa, ou vira um carrasco', diz Ênio.
Estilo
Ao assumir um cargo de liderança, muita gente acha que deve agir de outra
forma. Isso é desnecessário. 'em vários casos, o executivo é promovido
justamente por causa do perfil de liderança que já exercia sobre a equipe', diz
Felipe Maluf, sócio da consultoria YCoach, de São Paulo.
Mantenha nos relacionamentos a mesma conduta que garantiu seu progresso. 'a
única mudança deve ser o acréscimo de funções', diz Anderson Sant’Anna, do
núcleo de desenvolvimento de liderança e pessoas da Fundação Dom Cabral, de
Minas Gerais.
Respeito
Muitos se sentem desconfortáveis em manter relações mais próximas com a chefia.
Respeite isso. Esse estranhamento dura apenas um tempo. Não tente obrigar
ninguém a manter a mesma postura de antes. 'Alguns colegas se
distanciaram no início', diz Erlon Lisboa, de 35 anos, que assumiu o cargo de
gerente de auditoria e gestão de riscos da rede de lojas Marisa há dois anos.
Hoje, Erlon recuperou aos poucos a relação com seus antigos colegas. 'mostrei
que as conversas do passado não seriam usadas contra ninguém', diz Erlon.
Vantagens
Liderar uma equipe composta de gente conhecida tem seus pontos positivos. Um
deles é que um gestor oriundo do time conhece bem as características de cada um
e sabe o que esperar em várias situações.
A proximidade também faz com que o profissional entenda as aspirações de seus
antigos colegas — fundamental para manter a equipe satisfeita. 'O executivo
deve conectar os objetivos futuros dos profissionais às metas do departamento
que gerenciará', diz Marcia Vespa, da Leme Consultoria, de São Paulo.
Igualdade
É natural que se tenha relacionamento mais próximo com algumas pessoas. Quando
a relação é entre o gestor e um subordinado, porém, a amizade pode criar
desconfortos.
Para evitar isso, Estabeleça critérios sobre assuntos polêmicos, como concessão
de prêmios e folgas, e faça com que eles valham para todos. Se o falatório
continuar, chame a equipe para uma conversa e encontre os pontos que podem
estar desagradando.
Em último caso, adote uma saída drástica, como buscar a transferência do amigo
para outro setor.
Expansão
Preservar as relações construídas é importante, mas a promoção também permite
ampliar o relacionamento com outras pessoas, porque, depois disso, algumas
confidências não podem ser feitas aos antigos colegas, como questões mais
estratégicas. Mas não há mal em debater com alguns de seus novos pares ou
superiores.
Será natural que a relação com essas pessoas se torne mais estreita. Mas aqui
também vale o conselho de não forçar a amizade. Deixe que esses laços se
estabeleçam naturalmente.
Exemplos
'Os líderes mais velhos já passaram por esse tipo de dilema', afirma Felipe, da
YCoach. A observação pode mostrar que posturas seguir e quais evitar. O exemplo
também pode vir de alguma experiência pessoal.
A supervisora de logística de uma empresa de serviços de saúde Samantha
Troiano, de 32 anos, passou por isso. Antes de assumir seu cargo atual, ela já
havia feito parte de uma equipe comandada por um colega. “No caso dele, o cargo
subiu à cabeça e a experiência foi ruim”, diz. “mas Foi bom ter vivido isso
para não fazer igual.”
O importante mesmo é desenvolver um bom trabalho, em qualquer cargo que você
estiver, pois o seu trabalho valerá muito para uma possível promoção. E, se
você tiver boas relações, seus amigos irão torcer por você e ficarão felizes em
trabalhar ao seu lado, como seus colaboradores.
Fonte: Artigo publicado por Gabriel Ferreira, para o site Você S/A, ed. Abril/2015: http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/201/noticias/virou-chefe-do-seu-amigo-veja-o-que-fazer. Acesso em 15/04/2015