Fala-se em inovação,
empreendedorismo, atitude. Fala-se em inteligência, bits e bytes.
Fala-se em rede de relacionamentos, em 500,600, 1.000 conexões.
Enquanto as pessoas
se conectam virtualmente com centenas de outras, as verdadeiras amizades
desaparecem. Os divórcios aumentam. As relações físicas se tornam cada vez mais
superficiais e menos tolerantes. O sexo é a forma mais explícita de carinho,
quando não é a única. As lágrimas estão cada vez mais restritas às crianças.
Uma pequena parcela
das pessoas discute, com seriedade, o futuro do meio ambiente. Outra, menor
ainda, acelera sua destruição em benefício próprio.
Os jovens, bem
instruídos pelos pais, focam em suas carreiras. Os mais velhos, enquanto
matriculam seus filhos em cursos e mais cursos, repensam suas frustrações.
É a era da
perfeição. Lutamos inconscientemente pela morte do abstrato. Palavras como
sentimento, amor são lindas e valem ouro. Elas estão entre a lista de desejos
da maioria. Ao mesmo tempo, são empurradas para longe pelas nossas ações.
Falamos no coletivo, mas agimos para si.
As crenças mudam na
velocidade das informações que recebemos. De repente, sabemos de tudo um pouco,
só não conseguimos descobrir como viver. Estamos nos tornando especialistas em
sobreviver. Alimentamos com entusiasmo tudo o que nos destrói. Buscamos a
perfeição. Precisamos descobrir e aprender mais e mais sobre como sobreviver. A
sobrevida nos interessa. A vida em si, ficou muito distante. Ela foi para a
“caixa” dos abstratos.
As pessoas se
esforçam para serem iguais. Seguem a maioria, confundem-se com uma multidão e
reclamam da falta de oportunidade. Às vezes, alguém destoa dessa massa e se
aproxima do momento felicidade. É comum a mesma massa olhar para esta pessoa e
lembrar com nostalgia da vitalidade e juventude deixada no passado. Afinal,
viver não é importante, sobreviver sim! Mas, se algo der errado o olhar será de
repúdio. A massa segue caminho em direção à perfeição. A tentativa não tem
valor. O medo de errar não nos permite sentir.
“Somos de tal modo
governados pelo que as pessoas nos dizem que devemos ser, que nos esquecemos
daquilo que somos.”
Em algum momento da
vida os filhos se rebelam contra os pais. Em outro, tornam-se idênticos.
É a epidemia da
perfeição nos tornando iguais, sozinhos, mas sobreviventes. R. D. Laing resume
este pensamento: “Ficamos satisfeitos quando conseguimos tornar os nossos
filhos iguais a nós: frustrados, doentes, cegos, surdos, mas com um Q.I.
elevado”.
No fundo temos
fetiche pela perfeição. Saímos em busca dela mesmo inconscientemente e isso é o
que nos afasta, primeiramente, de nós mesmos e depois, dos outros. Ninguém se
identifica com a perfeição. Somos imperfeitos por natureza.
As pessoas em geral
buscam suas respostas onde não podem encontra-las. O medo do encontro com o
imperfeito as impedem de descobrir-se. Somos todos antenados no que não nos
pertence. Seria tão mais fácil se transpirássemos nossas imperfeições,
permitindo que as pessoas se identificassem com elas.
Acontece com as
fantasias. Guardamos a sete chaves e quando descobrimos alguém com uma
parecida, suspiramos. Descobrimos que somos normais. Sim, somos.
Os loucos estão
desorientados. Tentam se conectar com suas emoções. Entregam-se ao amor e
produzem arte. Entendem e praticam a colaboração. Despem-se de rótulos e
constroem mundos obscenos, envoltos em sentimentos. Mergulham no abstrato e
sentem prazer no que fazem. Buscam seus filhos na escola e não se preocupam com
o que os outros pensam. Que loucura! Sentem desejo e não vergonha. Preocupam-se
com problemas reais e não imaginários. Sobem em árvores e apreciam a lua.
Conhecem o cheiro da natureza e se preocupam com ela. Sentem-se vivos ao suarem
e não sujos. Conhecem o prazer de uma tarde de amor com sua (seu) esposa
(marido) numa terça-feira, pelo menos uma vez no ano. Vão à praia e curtem o
mar. Choram e riem. Satisfazem-se em sentir e doam-se. Meditam. Riem de si
mesmo. Arriscam, ousam, fazem experiências com a própria vida. Compartilham
saber e buscam conhecimento com curiosidade genuína. São singulares. Conversam
consigo mesmo e procuram dentro de si as respostas que precisam. Vivem suas
próprias vidas. Sobrevivem para viver e não vivem para sobreviver.
Difícil imaginar
viver em um mundo tão louco. Como anda sua sanidade?