O que o futuro reserva para os profissionais do secretariado
que sempre foram alvo de centenas de apelidos estereotipados, maliciosos e
pejorativos?
Ultimamente, tem-se intensificado o número de artigos
escritos sobre a profissão. Porém, ainda são inúmeras as dúvidas que persistem
tanto na esfera das chefias como junto aos próprios profissionais e alunos de
secretariado executivo. É uma profissão em extinção? Em transformação? Em
transição? Em evolução? Será que as mudanças organizacionais, administrativas e
tecnológicas conseguirão obscurecer os estereótipos e apelidos herdados desde o
início da função? A denominação de “secretário executivo” está acompanhando
toda a evolução do seu perfil e papel nas organizações de hoje? Será que está
possibilitando o retrato claro e exato de suas funções e atribuições nas
organizações?
Muitos são os questionamentos feitos no dia-a-dia e que
poderão ser respondidos com base nas experiências vivenciadas por profissionais
que atuam no mercado. Outros merecem uma análise mais profunda face às
constantes mudanças no mundo dos negócios. A partir de dados e informações
obtidas nos depoimentos de três secretárias executivas, no Seminário de Estágio
Supervisionado, do 8o semestre, do curso de Secretariado Executivo
Bilíngue (SEB) da Universidade Regional de Blumenau, procuramos historiar
alguns dos caminhos percorridos pela função de secretário até ser profissão em
1985, e como profissão, até seu momento de transição atual, na região de
Blumenau.
Ser secretária: opção ou acaso?
A SECRETÁRIA A, que iniciou suas atividades profissionais em
1955, em uma instituição bancária, após concluir os “quatro anos do ginásio”,
disse que realmente foi uma escolha ser secretária, pois desde muito pequena
imaginava que deveria existir uma profissão para quem, como ela, tinha
facilidade para escrever, ler, que falava alemão e gostava de acompanhar
pessoas. “Quando fiquei um pouco mais velha, eu vi que essa profissão,
embora eu não soubesse na época, se chamava secretária. Vi que este tipo de
profissão existia.” (SECRETÁRIA A).
Como queria trabalhar, comunicou aos pais esse desejo, só
que eles não se manifestaram muito favoráveis. Mas, como sabia que seu pai
tinha alguns amigos no Banco, foi até lá e se ofereceu para trabalhar. O
gerente confirmou que sua secretária precisava de uma auxiliar. Solicitou que
fizesse um teste e, se aprovada, seria contratada. “[...] fui contratada e
comecei a trabalhar, então, no Banco, onde fiquei de 1955 até 1969. Primeiro,
como datilógrafa, depois como auxiliar [...]”. (SECRETÁRIA A).
Referiu-se à secretária do Banco com muito carinho e
respeito. São suas estas palavras:
[...] ela
foi a minha mestra, a primeira pessoa que me ensinou alguma coisa, porque eu
não tinha experiência. [...] sempre dependemos de outros. Pelo menos depois,
quando aquela outra pessoa nos deu a primeira chance, a oportunidade, claro que
depois depende de nós. Mas sempre tem aquele primeiro passo. Então, tenho muito
carinho por ela, porque ela me abriu as portas; ela me deu aquela primeira
oportunidade. E aí trabalhamos juntas. À medida que ela saía de férias, eu
ficava como secretária [...] e depois quando se aposentou, fiquei como
secretária de gerência, no Banco.
Assim ela, como tantas outras, começou a carreira como
datilógrafa, pois ainda nos anos 60, a secretária era vista como uma
combinação de recepcionista-telefonista-estenógrafa-datilógrafa. E
como na época, muito tempo era utilizado na datilografia de documentos, o seu
sucesso profissional era medido pela sua eficiência e agilidade com a máquina
de escrever. Um dos poucos cursos de formação profissional para secretários que
existia era o de datilografia. Era preciso “aprender fazendo” no cotidiano do
escritório.
O início da carreira, para a SECRETÁRIA B, também foi por
acaso. Após sua graduação em Estudos Sociais, foi convidada a substituir a
professora de Técnicas de Secretariado de um colégio de Brusque. “Comecei a
estudar, a me preparar e me envolver com a disciplina [...] e comecei a me
apaixonar pela profissão.” Deixou seu currículo numa empresa têxtil e foi
chamada pelo diretor para secretariá-lo. Isso em 1978. “E daí em diante, o
amor pela profissão, o carinho por aquilo que a gente faz, as lutas, as
conquistas, [...] aquelas piadinhas, tudo aquilo fez parte do meu dia a dia.” Depois,
foi trabalhar como secretária de diretoria numa indústria metalúrgica
localizada em Blumenau, onde se aposentou em 1998.
Muitos profissionais começaram na função de secretário por
mero acaso, apenas com o intuito de usá-la como um caminho para outras áreas,
visto que o acesso direto aos dirigentes favorecia o contato com quem detinha o
poder de decisão. Isso prejudicou consideravelmente a imagem da categoria, em
torno da qual nasceram os inúmeros estereótipos.
Texto extraído de:
WAMSER, Eliane. O impacto das mudanças organizacionais
na profissão de secretário e a contribuição do estágio supervisionado em sua
formação. 208f. 2000. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade
Regional de Blumenau, Santa Catarina, 2000.