Trabalhei por um ano
em uma empresa que tinha um péssimo clima organizacional. Com metas agressivas
e um ambiente "tóxico", era comum ouvir gestores gritando com
subordinados e colegas de trabalho puxando o tapete uns dos outros. Após
decidir deixar o emprego, acabei discutindo com um diretor e fui demitido. Isso
aconteceu há sete meses e, desde então, tenho encontrado dificuldade para me
recolocar. Nunca sei o que dizer nas entrevistas sobre a empresa anterior e a
forma como saí de lá, uma vez que toda a experiência foi lamentável. Já tentei
responder apenas que não me encaixei na cultura da organização, mas parece que
isso não convence os recrutadores. Eles sempre pedem detalhes e acabo falando
mal da empresa e dos chefes. O que devo fazer para que isso não se torne um
obstáculo na minha carreira?
Analista, 27 anos
Resposta:
Em entrevistas, todo mundo sempre tem que explicar por que
saiu, está querendo sair ou foi demitido. Nunca fuja da resposta, não divague e
apoie-se na verdade. Procure respostas curtas, diretas e honestas. Fale de
forma coletiva, evite personalizar e mostrar ressentimento, emoção ou críticas
de maneira excessiva. Fale bem das outras pessoas e seja positivo. Diga apenas
que seu antigo chefe era difícil e inverta o assunto, falando sobre suas
realizações, interesses e habilidades - sempre munido de números e detalhes.
Ao longo de sua carreira você vai precisar buscar novos
desafios e oportunidades. Antes de tudo, é importante, com o apoio de um
especialista, montar um projeto profissional e estruturar sua exposição no
mercado, mapeando oportunidades. Estabeleça um objetivo claro e faça um balanço
das competências, realizações, motivações e da sua capacidade de resolver
problemas. Também é fundamental superar as dificuldades comportamentais, medos
e sentimentos de fracasso.
Seja por indicação, networking, redes sociais ou
headhunters, o processo sempre vai passar por entrevistas. É essencial,
portanto, estar preparado para elas. É na entrevista que duas pessoas vão
descobrir qual o tamanho do interesse em trabalhar juntas.
O primeiro objetivo do entrevistador é contratá-lo. Ele
gostaria muito que você fosse a pessoa certa. Já sua tarefa é mostrar que você
é a solução para o problema dele. O entrevistador vai avaliar suas habilidades,
experiências e realizações, além de julgar sua personalidade e seu
comportamento. Busca também medir sua capacidade de adaptação à empresa e aos
futuros pares, superiores e subordinados. Em resumo, a sua compatibilidade com
a "cultura, estilo gerencial e ambiente da empresa". Respostas vagas
podem lhe fazer perder uma boa oportunidade.
A preparação para a entrevista precisa começar muito antes
de você se sentar na frente do entrevistador. Consiga o máximo de informações
sobre a empresa e seus principais executivos, incluindo o entrevistador. Tente
descobrir que tipo de pessoa ele é. Mesmo que você julgue familiar a natureza
do cargo, busque mais detalhes e, se possível, uma descrição.
Conheça a posição da empresa em relação ao mercado e à
concorrência. Ela está crescendo ou declinando? Quais as forças aparentes? E, o
mais importante, quais são os problemas. Quanto mais você souber do empregador
e da concorrência, mais poderá mostrar na entrevista o quanto valioso será para
eles. Busque também organizar os dados sobre você mesmo de forma a ajudá-lo a
comunicar o máximo de valor que pode oferecer ao empregador. O mais importante
são suas realizações profissionais, mas também enumere algumas realizações
pessoais e acadêmicas.
É preciso usar cada abertura e cada chance para colocar as
informações essenciais sobre você, suas habilidades e suas experiências de
forma tranquila e suave. A melhor forma para fazer isso é aproveitar a força de
perguntas abertas para deslocar o fluxo da conversação do entrevistador para
você. Evite perguntas sobre salário, férias e benefícios. Seja um bom ouvinte e
crie empatia. Pense antes de falar, evite lugares-comuns ou obviedades. Procure
ser honesto, mas não se deprecie.
Quando a entrevista estiver para terminar, seu interlocutor
vai abrir um espaço para dúvidas. É importante saber concluir. Seus comentários
finais deverão confirmar seu interesse pelo cargo e estabelecer um acordo sobre
os prazos de retomada de contato. Finalize expressando seus agradecimentos. Se
a empresa demorar muito para voltar com uma resposta, você sempre pode tomar a
iniciativa de ligar. O tempo de espera é sempre relativo.
Gilberto Guimarães é diretor da GG Consulting e professor
Fonte: http://www.valor.com.br/carreira/3689206/posso-falar-mal-da-antiga-empresa-nas-entrevistas