Como é possível num mundo empresarial que apregoa a
meritocracia, o capital intelectual, as competências transformadas em
resultados, que talentos brilhantes e raros no mercado sejam impedidos de
realizar seu trabalho, sejam demitidos moralmente, boicotados e submetidos a
ingerências das mais incompetentes e descabidas.
Há tempos atrás um amigo meu fora convidado para uma reunião que lhe propunha
emprego em uma grande empresa. Mesmo tendo sido comprovadamente o mais
competente dos indicados à vaga foi preterido frente a um outro com currículo
infinitamente mais pobre e competências nitidamente não pertinentes ao
cargo. Como isso é possível?
Foi considerado “over qualified”. Não pelas razões clássicas e plausíveis que
conhecemos para o fato, como por exemplo, um profissional muito mais competente
que o necessário para a função e salário, resultando em permanência curta em
vista de novas oportunidades melhores no curto prazo. Este foi considerado
“over qualified” porque era nitidamente superior ao responsável pela sua
contratação. Sua inclusão na empresa fatalmente viria a revelar a
incompetência, falhas e desatinos de seu superior imediato.
Em outro caso, um competente profissional atuando na administração de uma
empresa nacional, após ter saneado, reestruturado e planejado estrategicamente
o futuro da empresa, com contribuições altamente significativas, foi
gradualmente destituído de seu poder de decisão em uma forçosa tentativa de levá-lo
a renúncia para que pudesse assumir o cargo pessoa ligada pela consangüinidade
e não pertinente ao cargo, cuja competência na função será julgada pelo
mercado.
Diante destas e muitas outras hipocrisias eu pergunto: Quem tem medo da
competência? Será possível que vamos perpetuar a presença de tartarugas em
árvores?
Explico-me: tartarugas não sobem em árvores... Se estiverem no alto é porque
alguém as colocou lá!
Será possível que tamanha miopia possa ser contemporânea da época da
globalização, da III revolução industrial, do genoma (e agora do proteôma) e da
explosão dos MBAs, que sinalizam a vontade das pessoas em aprender e evoluir?
Quem tem medo da competência?
Justamente aqueles que não se reciclam, cujo nível de leitura é dos mais baixos
da empresa. Excelentes em retórica, mas incapazes de obter resultados, não
fosse pelas boas idéias, projetos e ações que apresentam como sendo de sua
autoria quando na verdade partiram de um estagiário ou de uma excelente equipe
que consegue resultados apesar de uma “chefia” (porque liderança passa longe)
ineficaz.
Têm medo da competência os radicais, que se impõem pelo argumento da força e
não pela força do argumento, não conseguindo provar seus pontos de vista diante
da lucidez e da razão face a face.
Têm medo da competência aqueles que se escondem atrás de cargos que
mantém por não contrariarem seus superiores, mesmo sabendo que eles estão
equivocados.
Têm medo da competência as pessoas que, neste momento estão entravando seu
trabalho com objeções descabidas, superficiais e simplistas.
Mas você meu amigo, se neste momento sofre este tipo de “terrorismo” não
desanime, porque você não tem medo da competência, nem da sua nem da de seus
pares porque compreende que a mediocridade foi a causa da quebra de onze das
doze maiores empresas norte-americanas da última década.
Aos que tem medo da competência, deixe que o próprio tempo responda através dos
resultados que você mesmo sem a ajuda deles irá construir.
Deixe sua competência falar e quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça...
Carlos Hilsdorf
marketing@carloshilsdorf.com.br
Autor e consultor de empresas, profundo pesquisador do comportamento humano.