Algumas pessoas conservam o péssimo hábito de jogar a culpa pelos seus
fracassos nas costas de terceiros. Essa fuga da responsabilidade é bastante
acentuada na maioria da população brasileira, habituada a sentir pena de si
própria. O fato de responsabilizarmos alguém pelos nossos insucessos aplaca as
nossas consciências e, ao mesmo tempo, nos induz a um permanente estado
letárgico, sem qualquer poder de reação.
Essa tendência à auto condescendência explica, em parte, aquela famosa máxima,
oriunda das hostes esquerdistas, segundo a qual a nossa miséria estaria
associada, primeiramente à expropriação colonialista e, posteriormente, a um
pseudo imperialismo, exercido principalmente pelos americanos do norte. De
acordo com esse despautério, a nossa pobreza seria diretamente proporcional à
riqueza do primeiro mundo.
O raciocínio tortuoso de que o nossa penúria é parte do legado colonial não
resiste às evidências histórias, uma vez que países hoje desenvolvidos como
Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Hong-Kong e até mesmo os riquíssimos Estados
Unidos foram, outrora, colônias europeias, enquanto nações miseráveis como
Etiópia, Libéria e Butão jamais foram colonizadas. Por outro lado, Espanha e
Portugal, poderosos colonizadores do passado, não estão entre os países mais
prósperos, enquanto a Alemanha, cujas aventuras colonialistas do século XX
redundaram sempre em magníficos e onerosos fracassos, é hoje a nação mais
opulenta da Europa.
Já a teoria imperialista, que pretende explicar as causas do nosso
subdesenvolvimento através de um contínuo saque das nossas riquezas pelos ogros
americanos, é de morrer de rir, pois parte do pressuposto que a riqueza do
mundo é algo estático, pré-existente, que trocaria de mãos ao sabor da força ou
da coação. Chega a ser patético que alguém possa defender tais teses mesmo
sabendo que perto de 70% do PIB norte-americano são provenientes do setor de
serviços. Além disso, se a economia deles equivale hoje a quase 20 vezes a
nossa, basta um mínimo de bom senso e alguma isenção de raciocínio para
verificar que não foi através da pilhagem das nossas vastíssimas reservas
naturais que os ianques enriqueceram e progrediram. Desculpem a franqueza, mas
parece piada achar que os caras construíram aquele PIB de trilhões de dólares à
custa da exploração alheia. Ademais, é de uma presunção sem limites.
Enquanto continuarmos insistindo na confortável estratégia de jogar a culpa dos
nossos reveses nos ombros alheios, definitivamente não chegaremos a parte
alguma, pois permaneceremos incapazes de aprender com nossos próprios erros. É
preciso entender, de uma vez por todas, que se o país é pobre, faminto e
ineficiente, isto é resultado das nossas decisões e escolhas e não porque o
imperialismo nos colocou nessa situação. Que eu saiba, ninguém apontou armas
para a cabeça dos nossos mandatários e os obrigou a contrair dívidas imensas
para pôr em prática projetos faraônicos e absolutamente sem sentido, como transamazônicas
e outras beldades tupiniquins. Também não estou informado de qualquer algoz
externo que nos tenha impelido a passar décadas emitindo moeda de forma
irresponsável, gerando a hiperinflação mais duradoura de que se tem notícia,
cujas consequências estamos colhendo até hoje. Não foi, tampouco, nenhuma mente
alienígena quem produziu todos aqueles planos econômicos desenvolvimentistas
mirabolantes, que marcaram o nosso passado recente de forma tão cruel.
Pelo contrário, tudo o que se fez neste país, certo ou errado, desde a sua
independência, foi por moto próprio dos seus governantes e cidadãos. Culpar os
outros pelo nosso fracasso é fugir das responsabilidades. Que culpa têm os
ianques se conservamos o cadáver insepulto de Getúlio até hoje, mantendo
inalterada uma legislação trabalhista retrógrada, cuja profusão de direitos e
benefícios onera de tal maneira as contratações que acaba por desestimulá-las,
no lugar de incentivá-las, como seria desejável? Por acaso foram eles que nos
impuseram um sistema político e econômico caracterizado pelo gigantismo de um
Estado paternalista, assistencialista, ineficiente, perdulário e insaciável,
que através da sua sanha tributária inviabiliza a formação de poupança interna
e, por consequência, os investimentos do setor produtivo?
Se, ao invés de perdermos tempo criando teorias malucas, salpicadas de despeito
e inveja para explicar as nossas mazelas, focássemos a atenção no essencial,
não seria difícil deduzir onde está a diferença. Comparem a nossa Constituição
com a deles, por exemplo. Enquanto os malvados norte-americanos construíram a
sua sociedade calcada no poder do indivíduo sobre o Estado, no mérito pessoal e
no livre arbítrio, nós fizemos a opção pelo engodo demagógico do coletivismo,
onde o Estado se sobrepõe ao indivíduo de forma latente e cada dia mais
perverso.
Por: João Luiz Mauad