As decisões políticas e econômicas no Brasil são
extremamente centralizadas, com consequências por vezes nefastas para o país.
Max Weber desenvolveu a teoria sobre o patrimonialismo, um
sistema de poder de cima para baixo, onde a classe política apodera-se do patrimônio
do Estado com a indiferenciação das ordens pública e privada.
As teorias da democracia atribuem ao Estado três funções
básicas: a função política da negociação e representação dos interesses dos
diversos grupos sociais e econômicos; a função administrativa no gerenciamento
dos serviços públicos e sociais; e a função normativa do escopo econômico e
jurídico por onde tramitam os cidadãos e agentes econômicos.
No Brasil, uma quarta função se exacerba: a apropriação
indébita por parte da classe política do patrimônio do Estado, como um negócio
a ser gerido.
Da apropriação resultam três consequências: a inoperância da
burocracia como forma de controle social; a corrupção como forma de apropriação
do setor público pelo privado; e decisões públicas equivocadas não mediadas ou
consensualizadas com os atores econômicos e sociais.
A criação do Estado no Brasil remonta às Capitanias
Hereditárias, expressão genuína do patrimonialismo centralizador.
Simon Schwartzman em “São Paulo e o Estado Nacional” aponta
a geração de uma classe mais comercial e empreendedora em São Paulo, em
contraposição ao Estado centralizado do Rio de Janeiro.
Em nosso desenvolvimento histórico tivemos épocas de maior
ou menor centralização, mas sempre com a marca do Estado que se sobrepõe aos
interesses do cidadão.
A burocracia é hoje indicada por 80% da população brasileira
como um dos principais problemas nacionais, freando o desenvolvimento econômico
e social do país.
O custo da corrupção no país pode chegar a 70 bilhões de
dólares anuais, segundo estimativas recentemente divulgadas.
O marco regulatório jurídico e econômico muda continuamente,
gerando incertezas nos agentes sociais, com prejuízos para a nação.
É como se o país se resumisse ao Executivo.
Os partidos que chegam ao poder perpetuam o modelo
patrimonial, seduzidos pelas benesses dos cargos.
Decisões erradas na economia e avaliações equivocadas na
política têm grandes repercussões na sociedade, gerando o maior distanciamento
da população em relação aos governantes.
Ricardo Guedes, Ph.D. em Ciências Políticas pela
Universidade de Chicago, é Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisa Sensus.