Imagine uma equipe formada por diversas pessoas que
desempenham uma mesma função. Apesar disso, o temperamento, a formação e o
jeito de ser de cada um desses profissionais é muito diferente. A premissa é
óbvia, mas lidar com uma situação dessas não é nada fácil. Um gestor menos
preparado pode enfrentar problemas – tentando nivelar todos os funcionários a
um mesmo padrão e, com isso, deixando de extrair o que há de diferenciado em
cada um deles.
Segundo Víctor Martinez, CEO da Thomas Brasil, empresa
especializada em gestão de pessoas, quem não recebeu treinamento para ser líder
tende a se comportar como um gestor que ele mesmo gostaria de ter. “E isso não
funciona porque, justamente, as pessoas são diferentes. Ele pode pensar que ser
complacente e um pouco mais brando na hora de cobrar resultados é uma medida
inteligente, mas, para seu subordinado, isso pode mostrar que ele não é um bom
líder”, exemplifica.
Sem preparo
Martinez diz ainda que um fenômeno muito prejudicial na
carreira é as pessoas acharem que determinado funcionário será um bom líder
porque ficou velho ou porque faz bem alguma coisa. “Não se aprende a ser chefe
porque se realiza bem determinada tarefa. A liderança requer também uma parte
teórica e técnica. Por exemplo, para fazer um bom churrasco, não basta uma boa
carne. É preciso saber a quantidade de sal, a altura do fogo e o tempo de
cozimento”, compara.
Uma pesquisa da consultoria americana Career Builder aponta
que 1 em 4 gerentes admitiu não estar preparado para ser líder quando assumiu a
supervisão de outras pessoas. Entre as maiores dificuldades em lidar com a
equipe estão as questões de relacionamento entre os funcionários (25%); a
motivação (22%); a avaliação de desempenho (15%); a dificuldade em conseguir
recursos para dar suporte à equipe (15%); e a criação de um plano de carreira
para o time (12%). Entre as maiores dificuldades em lidar com a equipe estão as
questões de relacionamento entre os funcionários (25%) e a motivação (22%),
aponta pesquisa
Avaliação
Antes de o profissional assumir o desafio de ser líder,
Martinez recomenda que ele faça uma avaliação de autoconhecimento. “São
instrumentos que mostram quais são as suas características
comportamentais."
"Corre-se o grande risco de em promover uma pessoa
indevidamente: a empresa ganhar o seu pior gerente e perder o seu melhor
vendedor”, analisa Martinez. "Ao mesmo tempo, também não adianta ter um
líder muito preparado se a empresa não tiver uma política que incentive o
comprometimento profissional, como um plano de carreira e de desenvolvimento e
tenha um ambiente que estimule a criatividade e a inovação”, diz Alexandre
Prates, especialista em desenvolvimento humano, liderança e desempenho
organizacional.
Comprometimento
Para a advogada Maria Gabriela Moya Ganunny El Bayeh,
especialista em gestão, liderar é, antes de tudo, um ato de comprometimento e
coragem. “Em cada fase da carreira, há um aprendizado: no início, lidar com a
própria insegurança é o verdadeiro desafio; depois, é a experiência que conta;
e, mais para frente, há que se ter sensibilidade até para reavaliar as
experiências sem imaginar que já sabemos tudo”, afirma.
Gabriela conta que aprender a mandar não é difícil, mas
pressupõe que se tenha uma visão ampla do conjunto do trabalho. “Há ainda que
se dosar a fala e o comportamento para que os subordinados não achem que você
está pedindo um favor, nem, pelo contrário, dando uma bronca.”
Prates comenta que a dificuldade em lidar com pessoas é uma
reclamação de 100% dos gestores que buscam seu processo de coaching. “A queixa
é comum, especialmente em relação à geração Y, que é mais preocupada com a sua
própria carreira do que com a empresa.”
Competências
Prates diz que há dois tipos principais de cobranças dos
gestores de seus subordinados: as faltas de competência – que são erros por
falta de conhecimento ou habilidades e que são perdoáveis e possíveis de
ensinar – e as faltas de comportamento – que são a falta de comprometimento, o
profissional não se relaciona bem, não entrega as tarefas no prazo.
Para Gabriela, as últimas são as mais graves. “Contratamos
as pessoas por suas habilidades técnicas, mas as dispensamos por comportamento
inadequado. A verdadeira dificuldade não é lidar com a falta de conhecimento ou
preparo dos profissionais, mas sim com as atitudes humanas. Esse é o verdadeiro
desafio.”