Esse artigo foi publicado pela Revista Melhor Gestão de
Pessoas.
As empresas atualmente têm muitos desafios a enfrentar para
não cometerem erros na comunicação com os seus colaboradores. E as equipes e
seus membros precisam estar atentos em evitar falhas que possam comprometer as
suas carreiras e nem sempre são percebidas durante uma auto avaliação.
Aprimorar a forma de se comunicar na vida profissional traz ganhos
significativos e evita conflitos e insatisfações em todos os aspectos do dia a
dia.
O papel do colaborador é justamente participar do “time” e
se relacionar com os outros na empresa. E ele precisa saber como, afinal,
mantém uma relação de convivência diária com seus colegas de trabalho. Um bom
relacionamento interno é um fator estratégico para seu sucesso profissional e
para o sucesso da empresa como um todo.
Conhecer a si mesmo é a primeira etapa de uma vida
equilibrada, e por conseqüência uma comunicação eficiente e realizadora. É
preciso fazer uma reflexão profunda de como é a nossa interação com o mundo e
conosco: a forma de interpretar fatos, de compreender o próximo, de adquirir o
conhecimento, de tratar as pessoas; perante problemas e desafios, qual é o
nosso modo de agir?
Pensando no processo de comunicação, quando falamos, achamos
que o outro está recebendo a nossa mensagem sem interpretação pessoal,
entretanto, esquecemos algumas vezes que o nosso interlocutor adiciona
significados. Ele reelabora o que apresentamos, baseado nas suas experiências e
referências. Além das palavras usamos a linguagem não verbal, gestos e
expressões para transmitir sentimentos, estado de espírito, idéias,
pensamentos, intuições, sensações, valores e crenças pessoais. Nossa
comunicação verbal e não-verbal é a representação do nosso mundo interior
interagindo com o exterior.
No contexto de uma organização, cada pessoa precisa avaliar seu relacionamento
com os funcionários de diferentes setores da companhia. Saber lidar com a
gerência, a diretoria e os mais diversos departamentos, muitas vezes envolvendo
fornecedores e parceiros. Ser um profissional pró-ativo, comunicativo e
perspicaz vai ajudar a evitar os sete pecados capitais ao se comunicar no
trabalho. Eles foram inspirados em alguns dos pecados bíblicos. Vindo do latim
peccátu, é o sentido de errar ou não atingir um alvo, ideal ou padrão.
Classificados por São Tomás de Aquino (1225-1274), os mais conhecidos são:
gula, luxúria, avareza, ira, inveja, soberba, vaidade, preguiça, mentira,
arrogância, calúnia, adultério, roubo, orgulho, ódio. Durante séculos as
religiões e a sociedade discutiram sobre os pecados. Se durante a idade média o
indivíduo era condenado ao cometer uma falha, hoje em dia o ser humano é visto
como multidimensional e em constante evolução. Todos cometem erros, porém, o
que não devemos é permanecer neles. Na vida moderna, parte do avanço
conquistado vêm do aprendizado proporcionado pelas vivências e treinamentos
corporativos. Durante a carreira profissional e mesmo no decorrer da vida, é
essencial observar quais os pecados de comunicação são cometidos e o que fazer
para evitá-los:
Apatia: ela reflete o desconhecimento das
características do público-alvo. De nada adianta ter o domínio da forma e do
conteúdo se a fala é sem “alma”, sem sensibilidade e sem conexão com a
audiência. O contrário da apatia é a empatia, a capacidade de se colocar no
lugar do outro, compreendendo o seu nível sócio-cultural, temperamento e
momento psicológico. Ser empático é ser generoso com o outro, ao contrário da
avareza, o querer tudo para si. Com a voz serena, mas firme, pode-se articular
palavras com calma, confiança, polidez e respeitabilidade, tornando a
comunicação atraente.
Insegurança: a falta de informação, de
conhecimento sobre uma situação ou um tema, pouco ou nenhum conteúdo evidenciam
a ausência de assertividade. Pessoas inseguras geralmente se comportam de
maneira agressiva, para causarem medo e intimidação. Expressa autoridade com
rispidez. Essa imposição encobre o receio das suas próprias fragilidades. Ser
assertivo é ter autoconhecimento. Quem se conhece verdadeiramente pode se
observar “de fora”. Possui uma consciência de si tão sensível que pode observar
a própria atuação durante as relações interpessoais. Detém o controle de seus atos,
seus gestos e suas palavras. A comunicação interpessoal é o reflexo da
comunicação intrapessoal. Ao dominar as ações e o discurso, cultiva-se o
equilíbrio interior, e certamente os reflexos na comunicação interpessoal serão
positivos. Uma pessoa assertiva quer defender seus direitos e idéias e, ao
mesmo tempo, procura aceitar os dos demais. Ela é firme, é confiante, é
respeitosa, é ponderada, é, afinal, controlada. Quem mantém um comportamento
assertivo é alguém emocionalmente inteligente e maduro e com certeza tem um
destino destacado no futuro: o sucesso.
Impaciência: um dos grandes obstáculos ao
aprendizado e à boa convivência. Pouca clareza e nenhuma empatia tornam a
comunicação quase que uma obrigação ao invés de ser uma ação prazerosa e
envolvente. Quando se é impaciente, sobra pouco ou quase nada a ensinar e não
há espaço para a observação e o intercâmbio de informações. Uma postura sábia
requer dar o tempo de maturação necessário aos acontecimentos e também tomar
decisões firmes de forma serena, sem atropelos. No contexto corporativo, os
profissionais – que são, sobretudo, seres humanos, com todas as suas
imperfeições, complexidades, singularidades intrínsecas – se inserem em uma
dinâmica empresarial e têm de lidar com conflitos provocados pelo atrito de
suas diferenças. Ninguém é melhor do que ninguém a priori: só é possível
avaliar uma proposta ou uma opinião como “a melhor”, mais adequada, mais
oportuna, com base no diálogo, na argumentação sólida e na consideração e
respeito pelos outros.
Incoerência: Discrepância, falta de lógica,
inconseqüência. É a diferença entre falar, defender uma idéia, valores ou
posição e não seguir os discursos e as idéias apregoados. Durante uma
exposição, não encadear os assuntos dando uma seqüência pertinente e complementar,
defendendo um ponto de vista para em outro momento contradizê-lo. Esse
comportamento desperta desconfiança e descrédito, pois as pessoas acreditam que
a qualquer momento o incoerente poderá mudar de lado e até terá uma
justificativa, sem se importar com os desdobramentos das suas atitudes.
Prolixidade: ser excessivamente longo, cansativo
e entediante numa conversa ou texto é um dos maiores pecados da comunicação.
Geralmente o prolixo não reconhece que sua expressão é confusa, cheias de
palavras repetidas ou sem um significado importante e que os ouvintes não
prestam a atenção justamente pela falta de objetividade. Assim como uma
orquestra, uma apresentação ou reunião necessita de um maestro, um profissional
que lidere o grupo, alinhe e sintonize os interesses em questão, afine os
instrumentos, balize o timing da equipe, amenize ou elimine os ruídos e
dissonâncias desnecessárias, potencialize o som dos solistas mais talentosos e
interessantes, enfim, dê o ritmo e o tom do que está na “partitura musical”.
Ignorância: falta de conhecimento, sabedoria e
instrução sobre determinado tema, ou mesmo acreditar em algo falso, não tendo
discernimento. Saber que existe mais conhecimento e profundidade num assunto,
porém, não buscar isso. Fazer pouco caso da importância do saber, e agir como
se não precisasse do outro. Quando se trata de um líder, os conflitos e as
diferenças motivados pela desinformação e ignorância precisam ser encarados e
resolvidos, afinal, não se pode simplesmente ignorá-los. Saber lidar com os
conflitos e administrar as diferenças, usando uma comunicação equilibrada, pode
enriquecer a pluralidade da empresa, ampliando seus horizontes e a sua visão de
mundo.
Arrogância: caracteriza a falta de humildade.
Alguém que não deseja ouvir os outros, aprender algo que não saiba ou estar no
mesmo nível do seu próximo. A soberba, a altivez, o orgulho exagerado, a
vaidade em excesso em relação ao que sabe ou ao sucesso que desfruta completam
esse pecado. Segundo o cristianismo, um dos sete pecados capitais é a soberba,
que por sua vez inclui a vaidade e a arrogância. Mas ser arrogante pode também
significar coragem, o assumir o seu ponto de vista, a personalidade ou a
identidade. Contraposta, a humildade é uma das qualidades mais difíceis de
exercer. Porém, humilde não significa ser fraco perante a posição que se ocupa
no trabalho ou no mundo. Pode-se nascer com tendências à virtude da humildade,
como também trabalhar para adquirir esse comportamento. É saber ouvir, ser
firme sem passar por cima do outro, é ser reverente e ter o conhecimento exato
do que não se é. É viver sem ilusões. Alegria, serenidade e paz são os frutos
colhidos.
Se comunicar bem, promover o bem-estar e atingir os
objetivos estabelecidos para si mesmo nos âmbitos da vida pessoal e
profissional são qualidades desejadas pelas empresas inteligentes. Um time
inovador e vencedor só sobrevive porque alinha firmemente a comunicação pessoal
e a mercadológica. Inúmeras são as pesquisas a apontar o porquê das empresas e
instituições se destacarem, embora enfrentem acirrada concorrência. E a
resposta está no Treinamento e Desenvolvimento. No Brasil, dados de 2007 da
Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento, a ABTD, indicam que 4%
do orçamento das maiores empresas nacionais são destinados a T & D. De 476
empresas pesquisadas, o número médio de horas anuais de treinamento são 47, nos
colocando entre as maiores médias mundiais. Os programas de Desenvolvimento de
Lideranças ocupam o primeiro lugar nos investimentos, seguidos aos temas
“Trabalho em equipe”, “Gestão de pessoas”,“Negociação”e “Atendimento ao
cliente”. Como se pode observar, em todos eles o domínio da boa comunicação se
faz necessário.
Reinaldo Passadori
Presidente e fundador do Instituto Passadori, especialista em comunicação verbal e comunicação focada em gestão de pessoas/recursos humanos. É autor dos livros As 7 Dimensões da Comunicação Verbal e Comunicação Essencial – Estratégias Eficazes para Encantar seus Ouvintes – Editora Gente.
Presidente e fundador do Instituto Passadori, especialista em comunicação verbal e comunicação focada em gestão de pessoas/recursos humanos. É autor dos livros As 7 Dimensões da Comunicação Verbal e Comunicação Essencial – Estratégias Eficazes para Encantar seus Ouvintes – Editora Gente.