Já faz algum tempo que tenho procurado entender a motivação
de algumas pessoas em negar fatos óbvios, mesmo para questões de simples
entendimento, e que beneficia a todos. A procura me levou ao uso distorcido da
palavra Ideologia
O texto adaptado de Carlos Lopes Pires, retirado do Blog de
Rerum Natura, me proporciona o entendimento até então sem resposta, e que aqui
compartilho:
"A palavra ideologia não assume sempre a mesma
conotação: por vezes é utilizada com um sentido positivo, outras vezes com um
sentido negativo.
Pode remeter para um conjunto de ideais e princípios, ou seja, ideias acerca do
modo como as coisas deveriam ser, nomeadamente na política. Por exemplo: o
socialismo e o liberalismo são ideologias políticas. Dito por outras
palavras:“qualquer sistema abrangente de crenças, categorias e maneiras de
pensar que possa constituir o fundamento de projetos de ação política e social
é uma ideologia: um esquema conceitual com uma aplicação prática” (Blackburn,
1997, 219).
Mas pode remeter também para um conjunto de preconceitos, de
ideias anteriores à experiência e à análise crítica e racional e que, nas
palavras de Blackburn (1997, 219), funcionam como “uma espécie de óculos que
distorcem e dissimulam” a realidade. Nesta acepção, a ideologia leva a ajustar
os fatos à teoria e não a teoria aos fatos, ou seja, é uma maneira de pensar
que deturpa e ilude.
Nem sempre é óbvio se estamos perante o primeiro ou no
segundo sentido de ideologia. Sucede por vezes que os adversários de uma
ideologia no primeiro sentido (por exemplo, alguns socialistas quando criticam
o liberalismo ou alguns liberais quando criticam o socialismo) a tentam reduzir
ao segundo sentido.
E, em certos casos, são os próprios defensores de uma
ideologia a fazer essa redução do primeiro ao segundo sentido: agarram-se tão
cega e teimosamente aos seus ideais que estes se tornam meros preconceitos -
ideias cristalizadas incapazes de explicar o mundo e as suas mudanças,
repetidas com convicção e paixão mas de modo acrítico.
Poderemos dizer que “a marca segura de ideologia, tanto na
ciência e filosofia como na política, é a negação de fatos óbvios” (McGinn,
2007, 63)."
Obras referidas:
- Blackburn, Simon (1997). Dicionário de Filosofia.
Lisboa: Gradiva
- McGinn, Colin (2007). Como se faz um filósofo.
Lisboa: Bizâncio.
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