É a exposição dos
trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas
e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas
funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e
assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e
aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou
mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de
trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego.
Caracteriza-se pela degradação
deliberada das condições de trabalho em que prevalecem atitudes e
condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma
experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o
trabalhador e a organização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem
explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada,
culpabilizada e desacreditada diante dos pares. Estes, por medo do desemprego e
a vergonha de serem também humilhados associados ao estímulo constante à
competitividade, rompem os laços afetivos com a vítima e, frequentemente,
reproduzem e reatualizam ações e atos do agressor no ambiente de trabalho,
instaurando o ’pacto da tolerância e do silêncio’ no coletivo,
enquanto a vitima vai gradativamente se desestabilizando e fragilizando,
’perdendo’ sua autoestima.
Em resumo: um ato isolado de humilhação
não é assédio moral. Este, pressupõe:
1.
Repetição sistemática;
2.
Intencionalidade (forçar o outro a
abrir mão do emprego);
3.
Direcionalidade (uma pessoa do grupo é
escolhida como bode expiatório);
4.
Temporalidade (durante a jornada, por
dias e meses);
5.
Degradação deliberada das condições de
trabalho.
Entretanto, quer seja um ato ou a
repetição deste ato, devemos combater firmemente por constituir uma violência
psicológica, causando danos à saúde física e mental, não somente daquele que é
excluído, mas de todo o coletivo que testemunha esses atos.
O desabrochar do individualismo
reafirma o perfil do ’novo’ trabalhador: ’autônomo, flexível’, capaz,
competitivo, criativo, agressivo, qualificado e empregável. Estas habilidades o
qualificam para a demanda do mercado que procura a excelência e saúde perfeita.
Estar ’apto’ significa responsabilizar os trabalhadores pela
formação/qualificação e culpabilizá-los pelo desemprego, aumento da pobreza
urbana e miséria, desfocando a realidade e impondo aos trabalhadores um
sofrimento perverso.
A humilhação repetitiva e de longa
duração interfere na vida do trabalhador e trabalhadora de modo direto,
comprometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais,
ocasionando graves danos à saúde física e mental*, que podem evoluir para a
incapacidade laborativa, desemprego ou mesmo a morte, constituindo um risco
invisível, porém concreto, nas relações e condições de trabalho.
A violência moral no trabalho constitui
um fenômeno internacional segundo levantamento recente da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) com diversos países desenvolvidos. A pesquisa
aponta para distúrbios da saúde mental relacionado com as condições de trabalho
em países como Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Polônia e Estados Unidos. “As
perspectivas são sombrias para as duas próximas décadas, pois segundo a OIT e
Organização Mundial da Saúde, estas serão as décadas do ‘mal estar na
globalização”, onde predominará depressões, angustias e outros danos psíquicos,
relacionados com as novas políticas de gestão na organização de trabalho e que
estão vinculadas as políticas neoliberais.
(*) ver texto da OIT sobre o assunto no
link:http://www.ilo.org/public/spanish/bureau/inf/pr/2000/37.htm
Fonte: BARRETO, M. Uma
jornada de humilhações. São Paulo: Fapesp; PUC, 2000.