Na nossa campanha contra os modismos, chegou a hora de
analisarmos o uso excessivo dos estrangeirismos.
Por muito tempo, em nossas escolas, os professores ensinavam
como "erro" o uso de galicismos (palavras de origem francesa). Era
proibido falar ou escrever abajur, chofer, detalhe… Éramos obrigados a
substituir por quebra-luz, motorista e pormenor. E o tempo provou que estávamos
enganados. Hoje, todos nós usamos – sem culpa ou pecado – abajur, chofer e
detalhe. Temos até um belíssimo réveillon, na sua forma original.
Agora o inimigo são os anglicismos. Palavras e expressões
inglesas infestam e poluem a nossa fala. Temos um festival de beach
soccer, play ,off, delivery, shopping, brainstorming, software,marketing e
tantos outros.
A presença de termos estrangeiros no uso diário de uma
língua não é crime nem sinal de fraqueza. Ao contrário, é sinal de vitalidade.
Só as línguas vivas têm essa capacidade de enriquecimento. A forte presença do
inglês na língua portuguesa é reflexo da globalização, do imperialismo
econômico, do desenvolvimento tecnológico americano etc. Poderíamos citar
muitas outras causas, mas há uma em especial que merece destaque: a paixão do
brasileiro em geral pelas "coisas estrangeiras". Nós adoramos a
grife, o carro importado, a palavra estrangeira. Tudo dá status.
É, portanto, um problema muito mais cultural do que
simplesmente linguístico.
Valorizar a língua portuguesa, sim; fechar as portas, não.
Há no congresso um projeto de valorização da língua
portuguesa. Valorizar nosso idioma é louvável, mas é um absurdo criar uma lei
que possa vir a punir o seu João da esquina porque escreveu hot dog em
vez de cachorro-quente.
Se aprovada, será mais um péssimo exemplo de lei a não ser
cumprida neste país. Quem vai fiscalizar?
Não precisamos de lei para proteger a nossa língua.
Necessitamos, sim, é de recursos para melhorar o nosso ensino, investir na educação,
talvez criar um Instituto Machado de Assis, semelhante ao Instituto Camões, de
Portugal, e ao Instituto Cervantes, da Espanha.
E aí você me pergunta: e a Barra da Tijuca? Eu respondo:
qualquer semelhança com Miami não é mera coincidência.
E é contra isso, contra os exageros, contra os modismos, que
devemos lutar. A nossa crítica deve concentrar-se no ridículo, no
"desnecessário". Para que "sale", se sempre vendemos?
Por que"startar", se podemos começar, iniciar, principiar? Se podemos
entregar em domicílio, para que serve o ridículo "delivery"?
O modismo a ser criticado é esta lista imensa de palavras e
expressões inglesas para as quais a nossa língua já está bem provida: beach
soccer (futebol de areia), paper (documento), printar (imprimir)…
O aportuguesamento de termos estrangeiros também é uma boa
saída. É só lembrar o futebol, o blecaute, o estresse, o balé, o filé, o chope,
o espaguete…
E o que fazer com o dumping? Não conseguimos
aportuguesar e não há em português uma palavra para traduzi-la: "é quando
uma empresa faz preços abaixo do mercado para quebrar o concorrente". É
demais. Nestas horas, o termo estrangeiro é bem-vindo, pois enriquece a língua.
E há outros bons
exemplos: ranking, show, marketing, impeachment. São
palavras devidamente incorporadas à nossa língua cotidiana.
Portanto, nada de radicalismos. É importante valorizar a
língua portuguesa, mas nada de purismo e xenofobia.